sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Crise e aumento do suicídio


Eles tinham família, propriedades, amigos influentes, prestígio e dinheiro de sobra. Aparentemente, levavam vidas de reis e, no entanto, cometeram suicídio. No dia 23 de dezembro, o investidor americano Thierry de la Villehuchet, de 65 anos, dono do fundo Access International, se matou depois de levar um golpe de mais de US$ 1,4 bilhão (R$ 3,2 bilhões).

Já o empresário Adolf Merckle, um dos homens mais ricos da Alemanha e do mundo, se matou no dia 5 de janeiro. Depois de acordar na mansão em que morava (e onde trabalham 11 empregados) e tomar café, Adolf caminhou até a linha do trem e se deitou sobre os trilhos. As empresas dele, que empregam 100 mil pessoas, acumulam prejuízos estimados em US$ 1,5 bilhão (R$ 3,5 bilhões) por causa da crise internacional. Ainda assim, o império que ele tinha nas mãos está avaliado em mais de US$ 9,2 bilhões (R$ 21,5 bilhões), fortuna que o mantinha entre os 100 homens mais ricos do planeta, segundo ranking da revista “Forbes”. No dia 21 de janeiro, foi a vez do irlandês Patrick Rocca, um dos principais sócios do banco Anglo Irish, que sofreu enormes perdas nas últimas semanas e está sendo estatizado pelo governo. Rocca era amigo de celebridades como Bill Clinton e Tony Blair e cunhado do músico Van Morrison – com quem a irmã dele foi casada. Pai de três filhos, o magnata de 41 anos foi encontrado morto com um tiro na cabeça na mansão da família em Holmeleigh, condomínio exclusivo em Dublin, capital da Irlanda. Era figura constante nas festas mais badaladas do mundo e nas colunas sociais irlandesas. Tinha cerca de 500 milhões de euros (R$ 1,5 bilhão).

Sempre que uma grande turbulência abala a economia mundial, o tema suicídio volta à tona. Na grande crise de 1929, muito se falou sobre investidores desesperados que teriam se jogado de janelas porque perderam dinheiro. Sabendo disso, no fim do ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para um possível aumento nos índices de suicídio causado pela crise. A entidade encara o tema como problema de saúde pública. “São conse-quências da crise, que deve multiplicar os índices de transtornos mentais. Existem evidências claras de que o suicídio está relacionado a desastres financeiros”, anunciou Margaret Chan, diretora da OMS, aos jornais internacionais. Alguns especialistas, entretanto, são cuidadosos ao relacionar suicídio e dinheiro. Preferem discutir sobre transtornos mentais e doenças – como a depressão – que ficam ocultas até o momento em que a pessoa toma uma atitude definitiva e, aparentemente, por motivo fútil. Afinal, quantos desempregados e indigentes que mal têm o que comer jamais pensaram em se matar?

A psicoterapeuta Maura de Albanesi, diretora do Instituto de Psicologia Avançada, acredita que as perdas podem não ser os únicos motivos que levaram os milionários a se matar. Para ela, é possível que eles sofressem de problemas anteriores, escondidos atrás da vida aparentemente perfeita. “A ciência afirma que a maioria dos indivíduos com sérios distúrbios de personalidade já nasceu com alguma deficiência biológica; já têm tendência a desvios de conduta, pensamentos, sentimentos e comportamentos, a ponto de agredir a si mesmos”, avalia.

Mais do que o medo de ficar pobre ou a perda de uma parte da fortuna, o que muitas vezes motiva uma atitude desesperada entre milionários e profissionais de sucesso é a insuportável sensação de fracasso. Para certas pessoas, a perda de status e o medo de ficar com a reputação manchada ou de ser rejeitado no grupo social em que vivem podem ser devastadores. “Os investidores vivem em grupos de pessoas iguais a eles, ricos e cheios de status. Eles se preocupam muito com a própria imagem e dependem disso para viver bem. Se não trabalham bem uma perda, pode ser difícil encarar os desafios futuros e conviver com os colegas de novo”, explica.

Seguindo esse raciocínio, excesso de dinheiro pouco tem a ver com a vontade de viver e ser feliz. Mansões, carros e amigos famosos não são capazes de completar vazios existenciais de algumas pessoas que, infelizmente, nem se dão conta de que precisam preenchê-los.

Por Juliana Vilas

Agora podemos ver que dinheiro não traz paz e muito menos felicidade, ele pode trazer conforto e uma vida material impecável, mas sem a presença de Deus o ser humano continua vazio e sem direção.

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